A foto

Portret, Lucie van Dam van Isselt, 1914/Rijksmuseum

Todos meus dias são iguais. Menos quarta-feira, que é menos igual. Acordo, atravesso a cidade, chego no prédio, pego a chave na portaria e entro no apartamento da foto

A única foto do apartamento é de uma mulher que nunca vi em pessoa. Nem sei se é a mesma que mora aqui. Passo a quarta-feira entre panos, vassouras, aspirador, sabão e a foto.

Lavanderia, cozinha, a foto, quartos e banheiro. Banheiro, quartos, a foto, cozinha e lavanderia.

Aquela foto na sala não tem nada com o apartamento. Nem fico me perguntando a razão de estar lá. Mas não tem nada com nadica de nada.

Apartamento sem vida, sem cor. Minha casas, a três conduções daqui, não tem foto. Mas também não tem essa secura. Para que todos meus dias sejam iguais, sempre deixo a cortina da sala aberta. Assim, o sol ardido da tarde vai desbotando a foto.

Imagem: Portret, Lucie van Dam van Isselt, 1914/Rijksmuseum

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