Comidos por dentro (aka o fim do amor gourmet)

Dish with a man and a woman, anonymous, c. 1530 - c. 1540

Tirou a cabeça de lado e o soco acertou o ombro. Na reação, golpeou e acertou o antebraço. Terminaram a luta quase abraçados e usaram a força da proximidade para um se afastar do outro.

O resultado foi cada um caindo sentado.

Ele no sofá. Ela na berger.

Quando as respirações apressadas começaram a cessar, sobrou no ar o assovio da panela de pressão. A válvula girava bem mais rápido do que quando

Tina chegara em casa naquele final de manhã.

Chegou Tina? Então tira o sapato porque vai riscar o assoalho que acabei de passar cera.

Nosso almocinho já vai sair.

Tina obedeceu. Seguiu para a cozinha.

Largou o saco de compras na mesa. 

Ei, cuidado. Olha só. Vai estragar o bolo que acabei de assar. Vai não, já estragou. O saco acertou a ponta. Estragou a cobertura. E? E o que? Estragou a ponta. Ok, e?

Ele retornou ao fogão. Aumentou as chamas da panela de pressão pensando em acelerar o preparo da comidinha. Uma mão no botão, outro no cabo da panela.

Representação teatral de um homem e uma mulher em trajes de época, o homem toca no peito da mulher
Representação teatral de um homem e uma mulher em trajes de época, o homem toca no peito da mulher. Anônimo c. 1850 – c. 1880

Sentiu um leve toque na barba. Era uma maçã que passou pelo vidro da cozinha.

Porra Valentina, que foi?.

Al-mo-ci-nho teu cu, Enzo.

A maça estatelada no playground do prédio causou dúvida, espanto, curiosidade e indignação das mães e babás com seus carrinhos de bebês e das crianças que brincavam com seus patinetes e skates.


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