Impressionante! Depois do frio na barriga veio o esplendor. Como num passe de mágica a casa estava arrumada. Mais do que isso. Estava organizada em combinações e encontros impossíveis.
As meias estavam atadas umas as às outras formando um encontro macio. E as viúvas – sempre esperando por seus pares – não ficaram de foram do abraço. Eram recebidas carinhosamente por todas.
Tigelas, cálices e até o copo do liquidificador brindavam um encontro nunca marcado. Almofadas, panos, cobertas se emaranhavam nas poltronas e sofás movendo-se em uma dança estática. Nas prateleiras, os livros estavam dispostos em milhares de leituras.
Na entrada, uma aglutinação de casacos, gorros, chapéus, botas e sapatos faziam uma textura aconchegante. De longe, camisas, camisetas, calças dos guarda-roupas organizavam um desenho alucinante.
Diante daquela exuberância acendi todas as luzes, lâmpadas, abajures e velas. A fiz avançar pela rua abrindo todas as janelas e a porta que dava para a rua, onde passantes andavam a passos atravancados para fugir dos perigos daquela pasta de neve e lama.
Prostrei-me na janela com os braços fincados no batente. Avancei o corpo para agora ver o impressionante balé de cabeças obrigados a voltar o olhar àquele apartamento ao rés-do-chão.