O homem do poente

Richard Nicolaüs Roland Holst

Você pode vê-lo? Se não puder, não desanime. Teremos até o final de nossas vidas para isso. Ele é o homem que não conseguirá um fim. Viverá em penúria infinita. Caminhará para sempre em direção ao poente, mas nunca o alcançará.

Só o veremos de costas caminhando entre trigais e plantações de girassol. E só veremos seu perfil acinzentado, pois a luz do sol o encobre. Mas eu te digo como ele é, pois o conheci em vida. Seu olhar é cego, tem pupila de castanha. Você nunca saberá como foi seu rosto, porque em vida nunca teve um. Teve vários. É por isso que não terá fim. Suas ações em vida sempre pareceram ter desfecho. Mas não, ele sempre as manteve nas mãos.

Veja, ao caminhar sua sombra resseca tudo onde ela encosta. Sua falta de luz seca o trigo e
desorienta os girassóis que não acham mais o sol. Olhe essa folha, parece dourada de longe, mas de perto não tem brilho. Tudo que tocava parecia ouro. Foi assim a vida inteira, figura de opacidade levando consigo a luz alheia.

Nesse momento você deve estar perguntado o que ele era, um arquétipo, uma figura mitológica, dantesca. Se ele é metáfora, parábola, conotação, cifra? Não, talvez seja, como disse um amigo meu, aquele em que os fins justificam os meios.

Se ele vive ou está morto? E você, é vivo ou morto? Se foi enviado por deus para nos mostrar o
caminho ou não-caminho? Agora sou eu que pergunto, onde está o deus hoje, dentro de cada um? Quer saber? Siga o sol. Mas volte.

Imagem: Rijksmseum

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