Resenha: “Se fosse real seria irreal. E vice Versa”

Vanitas Still Life with Books -anonymous,1633

Aristide Antônio acaba de lançar “Se fosse real seria irreal. E vice Versa”. Nesse livro o autor explora situações que seriam reais, mas vai um pouco além. O além está, em alguns casos, em reportagens que a imprensa não publicaria, seja por questões econômicas – para não melindrar anunciantes ou grupos econômicos – o pela não-notícia. Que nesse caso seria descartado em uma reunião de pauta.

O jornalismo tenta trazer diariamente a realidade. Em cada capítulo, que pode ser um conto ou uma reportagem tenta trazer a irrealidade da realidade. Alguns podem argumentar que em muitas vezes o jornalismo aborda temas de maneira irreal. Um exemplo é o tal ‘mercado’. Ele existe e não existe. Os defensores da sua existência juram de pé junto que ele é tangível e acessível, dirão que é uma metonímia. Mas uma metonímia que só eles conseguem acessar. Afinal de contas, qualquer cidadão pode medir o pulso do mercado?

É nesse sentido que o autor aponta nesse livro, a tangibilidade do real. No conto “O Homem que Jogava Pedras”, fica bem claro esse movimento. Ao viver jogando pedras, uma de cada vez para todos os lados, o personagem pôde conhecer o mundo. E nós não jogamos pedras no mundo digital e vamos caminhando para todos os lados? Eis aí um exemplo de tangibilidade do real.

Outro ponto de destaque da obra, é a atuação dos repórteres. Podemos até afirmar que eles são personagens principais do livro. São eles que planejam e esquadrinham o que vai ser retirado e destacado dos entrevistados e dos fatos reportados.

Nesse caso fica a questão: até onde uma reportagem pode ir, por quais fatos ela deve ir e quais devem ser destacadas? Essa manobra pode ser percebida na reportagem “Ele queria congelar o amor. E a matou”. Quando o amante criminoso insiste em detalhar o homicídio, o repórter provavelmente sabendo que esses detalhes seriam cortados por questões editoriais, tenta levar o assunto para os sentimentos do assassino. Mas o esforço foi em vão.

Para finalizar, a obra chega em bom tempo, aggiornata com o nosso cotidiano. Isto é, acaba funcionando precisamente como um espelho, ou um complemento do jornalismo atual colocando como o irreal também pode ser real, ao passo que o jornalismo acaba funcionando no sentido contrário.

Ou de certa forma, tanto o livro quanto o jornalismo praticado nos dias de hoje andam juntos, ao deixar claro que ambos podem soar como mentira e verdade (ou verdade e mentira) ao mesmo tempo.

Imagem: Vanitas Still Life with Books -anonymous,1633

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